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quarta-feira, 22 de julho de 2009

Cara de paisagem

Apesar de ter me aventurado pela TV nos tempos de faculdade, considero as aulas práticas com a equipe montada pela parceria da Gazeta Mercantil com a TV Gazeta lá pelos idos de 2001 minha grande escola. Foi lá que aprendi a fazer cara de paisagem.
Lembrei-me disso ontem vendo o Profissão Repórter com o Caco Barcelos impávido diante da candidata derrotada do concurso Garota da Laje. A repórter Gabriela Lian também se manteve absolutamente neutra diante da chorosa garotinha desclassificada no concurso de miss prematura.
Até trabalhar na TV, eu chorava, abraçava, ajudava e encaminhava as pessoas. Não podia cobrir um enterro que me emocionava com a dor da viúva e filhos. Era um envolvimento sincero da minha parte, que rendia boas matérias, mas me deixava arrasada no fim do dia, dos meses, dos anos. O pessoal da redação se aproveitava disso e mesmo sendo repórter de Economia, vira-e-mexe lá estava eu num velório ou acompanhando a internação de um artista. Quanta emoção.
No jornalismo popular até isso que funciona, dá o tom de indignação diante da injustiça, coloca vida no que poderia ser mais uma notícia fria. Mas é uma ferramenta perigosa. É difícil dosar a interferência do jornalista na pauta e ao carregar a mão podemos mudar o fato, alterar "a cena do crime".
Na TV é pior ainda. A câmera já artificializa o fato. Não há quem não dê uma arrumadinha no cabelo quando vê um cinegrafista em ação. Isso já é uma interferência. E quando o repórter sacode discretamete a cabeça querendo simplesmente que o interlocutor continue falando e conclua o raciocínio, pode estar assinalando para a outra pessoa uma concordância com o que ela está falando, um incentivo [o "sim, estou ouvindo" se transforma em "sim, concordo com você, desce a lenha!"].
É por isso que repórter não mexe a cabeça, nem concordando, nem discordando. E muito menos faz careta. A mocinha pode se achar bonita, a mãe pode se sentir no direito de expor a filhinha de 5 anos, quem deve tirar suas conclusões e formar a própria opinião é o tele-expectador.

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