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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Corinthians e corinthianos

Comecei a gostar do Corintians na época da democracia corintiana. Era uma época efervecente em que as vozes contra a ditadura começavam a se multiplicar e, sem dúvida, aquele movimento num dos times mais queridos do Brasil ajudou a fermentar o espírito de mudança. O time de Sócrates, Wladimir, Casagrande, Zenon e Biro Biro trouxe nova mentalidade para o futebol na época, os jogadores colocavam as suas opiniões políticas, participavam das decisões do clube, e jogavam bola pra caramba.
Sempre mantive também uma simpatia pela torcida. E tudo ia bem até o Carnaval de 1999. Naquela época trabalhava como repórter de Economia de um jornal muito popular e, como nada acontece no cenário econômico nos dias de folia, fui escalada para fazer plantão cobrindo os desfiles e a apuração. Jornalista sofre.
Horas e horas de pé ao som da bateria, escrevendo e apurando enquanto os outros se divertem. No meu caso, se encontrasse uma história boa na concentração - algo que pudesse render uma boa notícia - tinha que correr pelo lado de fora do sambódromo, tropeçando em bêbados e seguranças, para chegar na dispersão e encontrar a mesma pessoa do começo do desfile para pegar suas impressões sobre a experiência. Corre pra lá, corre pra cá, tropeça em um, empurra o outro, lá fui eu cumprir meu dever de informar.
Foi tão cansativo que cheguei a acreditar que a apuração seria simples. Ledo engano.
Aquela manhã de sol a pino no Anhembi já prenunciava que o dia ia ferver...
A presença dos integrantes das escolhas estava mais ou menos 10 a 1 para a Gaviões contra todas as outras juntas - apesar de o desfile ter sido criticado por alguns especialistas (o que não era o meu caso porque não sei diferenciar um tamborim de um reco-reco) - e a cada voto a temperatura subia. Para espanto geral, exceto dos corintianos, a Gaviões empatou com a Vai-Vai, que naquele ano saiu com um enredo em homenagem a colônia japonesa.
Azar o meu. Se uma escola só tivesse ganho, a equipe de Variedades do jornal daria conta de cobrir sozinha, mas duas era mais difícil. Fui escalada para ajudar e no sorteio calhou de eu ir para o Bom Retiro enquanto a outra repórter foi para a Bela Vista. Até aquele momento meu coração corintiano falava mais alto e eu não via problemas em me juntar aos meus companheiros de torcida na comemoração.
Enquanto eu ia no carro do jornal dar a volta pela ponte da Casa Verde para chegar à sede da Gaviões, o pessoal da arquibancada cruzava o rio Tietê pelo cano da Sabesp mesmo. Quando cheguei na quadra, já estava lotada.
Encontrei bebezinho com camiseta do time, cachorrinho poodle pintado de preto e branco, consegui mais algumas histórias, mas nada agradava meu editor. Com o passar das horas, as ruas em volta da quadra também ficaram cheias. Era só alegria. Vendedores de rua rapidamente montaram diversas barraquinhas de cachaça e as doses não davam conta do tamanho da freguesia sedenta. Até o começo da tarde a organização da escola não tinha conseguido um fornecedor de cerveja para regar a festa e o pessoal se abastecia de pinga mesmo. Meu editor esperto, concluiu que isso ia dar confusão e me mandou continuar na cobertura. No meio da multidão vi alguns começos de briga, mas nada que a turma do deixa-disso não resolvesse.
Quando finalmente a cerveja chegou foi um tumulto só. O fotógrafo que me acompanhava se deu por satisfeito e ligamos para a redação para passar o texto e chamar o motoboy para buscar o filme (naquela época máquina fotográfica usava filme). Estava ditando o texto quando alguém arrancou o celular da minha mão. Era um modelo tijorola, daqueles que se carregava uma bateria extra na bolsa, mas era o único que eu tinha e pertencia ao jornal. Gritei, mas gritei tão alto que minha voz superou o barulho geral. O presidente da escola veio falar comigo e disse (cara-de-pau!!!) que "era coisa de palmeirense infiltrado na festa"! É mole?!
O jeito foi ir para a redação e digitar a matéria correndo para fazer o BO do roubo na delegacia do Bom Retiro. Já era noite quando me encontrei com o fotógrafo de um jornal concorrente na delegacia. Ele também estava cobrindo a comemoração e também estava no prejuízo: numa das confusões quebraram a máquina do cara. Ficamos até de madrugada na delegacia porque nosso caso era menos importante que o assassinato de um membro da Gaviões lá mesmo na quadra onde eu estava. Pelo menos já estava com a matéria do dia seguinte na mão. E uma história pra contar na roda de amigos.
Nem isso me fez ter ódio dos corintianos. A tirada do presidente Metaleiro foi ótima. E o um dos poucos sambas-enredos que eu sei de cor é da Gaviões de 1995: "Me de a mão me abraça//viaja comigo pro céu//sou Gavião levanto a taça//com muito orgulho pra delírio da Fiel ...Olha pra mim//abre o teu sorriso//é carnaval, sou o rei do riso//vou gargalhar, quero alegria//lavar a alma com o som da bateria"

1 comentários:

Anônimo disse...

Muiiito bom. Eu me lembro desse Carnaval de 1999. Realmente foi um grande samba-enredo. A diferença entre o tamborim e o reco-reco é simples:
o tamborim quando você bate de uma determinada maneira (utilizando técnicas apuradíssimas) faz tã-bu-rimmm.
Já o reco-reco emite um som parecido com ré-com-ré.

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